Ely Carter
A Alameda

Anna caminha, sente os pés úmidos pela friagem daquela manhã. Observa por ambos os lados da alameda as árvores completamente nuas, desprovidas das suas folhas, o único cobertor dos ramos era a neve.
Percorria sempre esta estrada ao ir ao trabalho. Passar por ali lhe dava um lado a sensação de paz, por outro lado, sentia a necessidade de apertar o passo, porque infelizmente mulheres jamais caminham tranquilas pelas ruas da cidade. Caminhar na neve faz um barulho engraçado, um tal de nhac-nhac estranho.
Com as janelas do olhar escancaradas, quando passava por ali ela observava tudo. Imaginava aquelas arvores como testemunhas de tantas coisas: a tranquilidade ou a ansiedade de quem pegava ou perdia os ônibus que passavam por ali; o sorriso ou a tristeza no rosto do adolescente que tinha que ir à escola, pensando seriamente sobre quando as férias chegariam.
Naquela alameda tinha de tudo: escola, restaurante, escritórios, gente ocupada que corria de um lado para o outro, ocupada em acudir a vida.
Diferentemente de pessoas indiscretas, as árvores observavam de modo respeitoso aquele vaivém, sem interferir, sem interrogar, sem julgamentos. Apenas um olhar discreto.

Anna se considerava uma pessoa de sorte por poder observar estas arvores nas quatro estações do ano. Não se cansava de notar a elegância que aquelas arvores davam à alameda durante o outono.
Com as suas copas coroadas com folhas de cores lindas como um marrom-ferrugem, o amarelo-mostarda, o vermelho-queimado, cada arvore parecia ter um cachecol com tantas tonalidades e quando a chuvinha outonal caia, subia no ar o cheiro de terra, perfume de cereja e avelã confundiam o olfato dos transeuntes. A luz do outono não era tão intensa como aquela do verão, não atrapalhava e assim aquelas arvores na alameda podiam se deixar ver.

Durante a primavera, as árvores da alameda se sentiam gratas pelos olhares languidos dos motoristas que parados nos semáforos, quando as preocupações lhe permitiam um minuto de trégua, as observavam gratos pela beleza daquelas cores.
Pessoas com as mãos firmes nos volantes, apressadas, consumidas pela falta de tempo, em frações de segundo sentiam despertar dentro deles aquele sentimento de reconhecimento da própria humanidade. Quantos pensamentos nos passam pela cabeça quando estamos ao volante?

O verão é o momento do espetáculo de cores, perfures e texturas que aquelas arvores ofereciam a todos. A luz inundava a alameda, os arranha-céus competiam entre si para saber qual deles era o mais notado, visto e desejado por aqueles que la embaixo na alameda, como formiguinhas marchavam em ordem.
As árvores no que lhes concerne não concorriam entre elas, mas se davam as mãos, por assim dizer, e cada galho ou ramo era um convite a sombra estendido a todos os que por ali passavam. Sombra para quem pegava ou perdia o ônibus, sombra para quem ia ou voltava da escola com a cabeça entre as copas, pensando sobre para qual lugar na alameda da vida seriam conduzidos.

