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  • Immagine del redattoreEly Carter

Amanhã ...



São duas da madrugada, enrolada no cobertor, diante deste computador ouço o som do trem que passa rápido, cortando o frio vento que sopra. E’ primavera, mas aqui nem o beijo da primavera ganhamos, pelo contrário, na minha região a neve resolveu dar o ar da graça, e espero que os meteorologistas acertem e que a mesma vá embora logo, eu preciso de um banho de sol.


Não consigo dormir, sinto um frio inexplicável, penso que nem se eu me mergulhasse numa caneca de chocolate quente, nem isso aqueceria o meu corpo, a minha alma ou o meu espírito.

Sinto correr pela espinha uma única certeza, não seremos mais os mesmos.


Cansei de assistir os jornais, de ler as notícias, deixei de contar os mortos, cansei de ver os nossos soldados vestidos de branco, indo para uma guerra sem armas, ouço os sussurros de quem chora baixinho para não assustar os filhos. Não aguento mais teorias de complot, porque não vão trazer de volta quem se foi, nem vão dar um sorriso a quem ainda está aqui.

Informo-me, mas juro que só faço por "esporte"


A minha única certeza? Não seremos mais os mesmos, o mundo quando esta isso acabar, não será o mesmo.


Tanto tempo atrás, ouvi uma passagem bíblica que dizia que mil anos para Deus são como um dia, se assim for, fazem poucos meses que o mundo foi criado, e nós como crianças indisciplinadas, com as nossas mãos destruímos o brinquedo que tínhamos acabado de ganhar. Este senso de desproporção do nosso tempo em relação à eternidade deixa-me pasmada, assustada, mas, ao mesmo tempo, consciente.


Estou tomando consciência que não sou mais como antes e a coisa não me alegra de fato.


Sinto falta de tantas coisas e pergunto-me se precisava de um maldito vírus para despertar o sentido.

Pergunto-me: mas era necessário um vírus, assim potente, que grita e a gente cala, para me fazer perceber o quando eu não estava nem ai para tantas coisas? Era necessário um vírus, um maldito para me mostrar agora pelas tantas da noite a falta, que me fazem tantas coisas?


Sinto falta da voz da barista que trabalhava no bar onde eu as vezes ia tomar café com o meu filho antes de leva-lo a creche. Sinto falta de passar por uma viela e ver uma senhora sentada na frente de um cavalete, onde tem apoiada uma tela e tenta pintar uma flor do balcão que briga com o vento e se move, uma modelo nervosa e cheia de birra aquela gerbera.


Sinto falta do teatro, do concerto. Sinto falta da risada dos jovens dentro trem que vão à escola ou a universidade. Sinto falta do cheio de pipoca no cinema, do barulho da feira, das discussões na fila do supermercado. Sinto falta do barulho da vida, sim, porque a vida é barulhenta mesmo.

Nestes dias de quarentena forçada, sinto-me borboleta, consciente da incerteza da vida, da sua brevíssima duração e que como esta eu preciso procurar o sol, voar pelas flores do jardim da humanidade, ouvir o som do riacho das lágrimas das crianças que correndo caíram e ralaram o joelho, mas com o beijo de mãe, passa, com abraço do pai, se supera.


Quanto mais me dou conta que não sei quando isso vai terminar, se é que terminará um dia, mais cresce dentro de mim o desejo de companhia. Maior se torna a certeza que não seremos mais os mesmos, que quem sobreviver, será por um tempo, refém do fantasma do vírus, do espectro do medo, porque não confiaremos imediatamente no que nos será dito. Estaremos por um tempo, ali, com um passo a frente e dois para trás, vai demorar para darmos confiança a realidade.


Este tempo doado, maldito ou abençoado, propõe a falta, a saudade da companhia, o desejo do outro com todos os seus limites, que unidos aos meus limites, aumenta a minha consciência de necessidade de progresso.


Os meus olhos se fecham, amanhã, quando eu acordar, quem sabe terei mais fé na força transformadora da dificuldade, assim, quem sabe voarei como borboleta, a procura do sol.


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