ELY ROCHA
Páscoa
Aggiornamento: 31 mar 2021

A Páscoa se aproxima e come muitas vezes fazemos com outras festividades, nos perguntamos o significado e o quanto tal festividade tem a ver com a nossa vida moderna.
A palavra Páscoa deriva do nome em hebraico que significa Pessach (passagem) e nos transmite a ideia de ir avante, seguir. O termo nos leva a festividade hebraica que celebrava a saída dos israelitas do Egito em direção à Terra Prometida. Um percurso cravejado de experiências dolorosas, mas também grandiosas.
Embora os simbolismos sejam análogos por certo versos, a Páscoa cristã possui outro significado. Entre o III e IV seculo a.C., no tempo de Herodes, o Grande, em Belém, numa gruta desconhecida nasce uma criança a qual foi dado o nome de Jesus. Os símbolos da natividade indicam já o destino daquele recém-nascido que deverá morrer para ressurgir. Cada coisa naquela cabana: desde a mirra, ao incenso e ao ouro, perfumam de morte e ressurreição.
Todos conhecemos a narrativa cristã, na qual aquele bebê que nasce e tem uma infância anonima, quando cresce, segundo a narrativa bíblica, é tentado no deserto, cumpre milagres e prodígios, encoraja os fracos e ensina através de parábolas, que até hoje iluminam o coração dos homens com uma simplicidade que os grandes conferencistas sonham! Uma mensagem potente que ressalta a nossa humanidade, educa a sensibilidade, propõe o perdão e fala de redenção. Um patrimonio de valor inestimável para a humanidade, que se por um lado educa ao amor, por outro lado, é muito claro em dizer que a vida é feita de desafios e também de dores.
Este homem considerado inimigo dos potentes da época, é capturado, torturado, envergonhado e acaba sofrendo uma morte terrível. A Páscoa cristã se resume nestas três fases: paixão, morte e ressurreição de Cristo que acontece três dias após a sua partida.
Estas três fases foram de inspiração para muitas expressões artísticas. Neste artigo considero rapidamente duas delas: a pintura e o cinema.
Começando pela pintura...
A última ceia – Leonardo da Vinci

É a sua obra pictórica mais famosa: pintada entre 1494 e 1499, encontra-se no antigo refeitório renascentista do convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão. A obra-prima, com afrescos na parede da sala, foi restaurada várias vezes e, desde 1980, é listada como Patrimônio Mundial da UNESCO. Retrata a última refeição de Jesus entre os apóstolos.
Captura de Cristo - Caravaggio

Criada em 1602 por Caravaggio, a obra "Captura de Cristo" ou "Tomada de Cristo no jardim" retrata o momento em que Jesus, que aparece imóvel e triste, é bloqueado por Judas; as duas figuras, atingidas por uma luz externa, quase parecem se abraçar. A pintura, em seu claro-escuro inconfundível, pode ser admirada na National Gallery of Ireland em Dublin.
Cristo diante de Caifas - Giotto

O afresco de Giotto, datado 1303, é mantido na Capela Scrovegni em Pádua, Patrimônio Mundial, e faz parte do ciclo pictórico "Histórias da Paixão de Jesus"; você pode admirar na parede direita, olhando para o altar. A cena mostra Jesus na casa de Caifás, o sumo sacerdote que rasga o manto de seu peito, enquanto um armígero levanta a mão para golpear o filho de Deus.
Crucificação - Duccio da Buoninsegna

A obra está no centro do retábulo "Maestà del Duomo di Siena", pintado por Duccio di Buoninsegna entre 1308 e 1311, uma das pinturas mais importantes da arte italiana pré-renascentista. A obra-prima faz parte do ciclo pictórico da Paixão de Cristo, retratado na catedral de Siena.
Deposição da cruz de Beato Angelico

O retábulo, executado por Beato Angelico entre 1432 e 1434, está conservado no Museu Nacional de San Marco, em Florença. O painel central do retábulo sagrado, dedicado à deposição de Jesus, segue um esquema piramidal em que se inserem a faixa horizontal da paisagem e a figura diagonal de Cristo, que se destaca pela cabeça reclinada e pelo corpo oblíquo. As cores são brilhantes e os detalhes muito ricos; o chão é coberto de plantas, pintadas nos mínimos detalhes, que aludem à primavera, ao futuro renascimento de Cristo.
Cristo Morto - Andrea Mantegna

É uma das pinturas mais famosas de Andrea Mantegna, preservada na galeria de arte Brera, em Milão. A obra, criada entre 1475 e 1478, é famosa pela inovadora visão em perspectiva do corpo de Cristo deitado, o que leva o observador a fixar o olhar nos pés. Severa e expressiva, a pintura capta o momento anterior ao sepultamento de Jesus, quando o corpo ainda está deitado sobre a pedra da unção, meio coberto pela mortalha. Na pintura também estão a Virgem Maria, que enxuga as lágrimas, São João enquanto reza e, nas sombras, Maria Madalena.
Piedade - Michelangelo

A obra pode ser admirada na Basílica de São Pedro, no Vaticano: é a mais famosa escultura em mármore de Michelangelo Buonarroti, criada entre 1497 e 1499, quando o artista tinha pouco mais de 20 anos. É considerada uma das maiores obras-primas artísticas de todos os tempos: retrata a naturalidade, o apelo poderoso e a emoção do sentimento de piedade da Virgem para com o cadáver de Jesus, deitado sobre as suas pernas. Após os danos de vândalo sofridos em 1972, a estátua é protegida por uma caixa de cristal especial.
A Ressurreição de Cristo - Rafael

É o Museu de Arte de São Paulo (MASP), Brasil, que abriga o quadro Ressurreição de Cristo de Raffaello Sanzio, feito por volta de 1501 a partir de uma maquete de Perugino da qual, no entanto, o pintor renascentista de Urbino se separou, criando paisagens variadas, animadas e muito detalhes mais elaborados. O rico sarcófago, as vestes bem acabadas, os gestos vivos e as cores encorpadas, de fato, conferem um maior destaque plástico às figuras, começando com Cristo subindo ao céu.
Ressurreição de Cristo - Rubens

Em 1616, Pieter Paul Rubens pintou a Ressurreição de Cristo ou o Sepulcro da Páscoa, que hoje admiramos na galeria Palatina do Palazzo Pitti, em Florença. A figura do Cristo renascido está particularmente viva e com influências de Michelangelo, enquanto em torno das presenças angelicais, ricas em símbolos, acentuam o dinamismo; principalmente a figura da direita que também cria um efeito de luz com seu vestido laranja, chamando a atenção do espectador.
A outra arte que deve muito a Páscoa como fonte de inspiração é o cinema
O cinema, a sétima arte, em vários momentos da sua história representou a Páscoa e o seu significado. Entre os grandes colossos cinematográficos posso citar Ben Hur, de Willian Wyler, 1959, vencedor de 11 Oscar e um David Donatello; Seguido pelo filme “O evangelho segundo Mateus”, onde o diretor Pierpaolo Pasolini enfatiza o lado mais humano que divino de Jesus.
Em 2004 Mel Gibson propôs a sua versão com o filme Paixão de Cristo, um filme caracterizado pela capacidade de fazer arrepiar os cabelos, com tanto realismo e uma cenografia intensa. Diálogos originais escritos em latim e aramaico. Filmado em Matera na Itália, o filme foi muito criticado pela sua estética crua, por fazer lembrar Poncio Pilatos um homem gentil e os romanos pintados como estúpidos.
Embora os símbolos ao redor desta festividade sejam tantos assim como tantas são as crenças humanas, o que desejo neste particular momento que estamos passando é que a humanidade possa redescobrir o significado autentico da Páscoa e que entenda que a cada momento é ocasião de renascimento. A arte serve para isso, não dá respostas, mas nos ajuda a refletir e a fazer perguntas.
